No início desta semana, o Banco Central divulgou uma decisão que impôs um teto de 0,7% na taxa de intercâmbio (TIC) em cartões pré-pagos emitidos por fintechs.
Antes dessa decisão, não havia limite de TIC para cartões pré-pagos ou de crédito. Essa decisão pode resultar em uma queda de receita entre 60% e 70% para algumas fintechs, segundo executivos contactados pelo site das startups.
O TIC ou Taxa de Intercâmbio é um percentual pago pelas bandeiras por cada transação realizada ao emissor do cartão. Este é um modelo fácil de usar que gerou várias fintechs nos últimos anos.
Até então, a média de uma transação com cartões de crédito e pré-pagos era de 1,5 para 2, segundo Gustavo Souza Sócio do fundo SaaSholic, especializado em investimentos em empresas SaaS em estágio inicial na América Latina, voltadas para startups.
Entre as empresas que surgiram e operam nesse modelo estão o Access Bank, adquirido pelo Méliuz, e as empresas de benefícios Flash e Caju e Noh.
Os grandes bancos oferecem cartões de débito e monetizar muito menos do que as startups, disse Gustavo. Isso está acontecendo porque os bancos tradicionais já operam sob um teto. Desde 2018, o banco central estabeleceu uma taxa média acumulada de 0,5% na taxa de intercâmbio para cartões de débito e um máximo de 0,8% para cada transação. Desde a última decisão, a taxa foi de 0,5.
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A tarifa de intercâmbio para cartões de crédito e pré-pagos está em discussão desde 2021. De um lado da corda, o dos bancos, estava a ideia de estabelecer um teto de TIC para cartões pré-pagos, como já era o caso dos cartões de débito, em para alinhar o tratamento regulatório entre os setores. Do outro lado da corda, havia fintechs que se opunham a essa resolução, alegando que isso prejudicaria sua monetização e modelo de negócios.
A introdução de um limite nas TIC mudaria, na prática, toda a dinâmica do cartão pré-pago e limitaria os ganhos a uma fração muito menor do que as startups costumam ganhar.
Segundo nota do Nubank, as tarifas interbancárias dos cartões pré-pagos representaram 7,0% da receita da empresa entre julho de 2021 e junho deste ano. Se as mudanças introduzidas pela Resolução BCB 246 estivessem em vigor desde 1º de julho de 2021, as receitas bancárias teriam sido 2,9% menores.
Consequências para startups
Essa definição do banco central entrará em vigor em 1º de abril do próximo ano. Isso dá às empresas cerca de seis meses para se prepararem para esse novo momento. Algumas das empresas surgiram com um modelo de negócios baseado principalmente na monetização via TIC e foram as mais atingidas. As fintechs precisam acelerar o desenvolvimento e o lançamento de novos produtos com potencial de monetização, disse Gustavo às Startups.
Do ponto de vista de Gustavo, há duas saídas para essa mudança para as fintechs: A primeira é oferecer produtos de crédito, que até então ficavam em segundo plano. A segunda maneira é focar mais nas ofertas de software como uma oportunidade de monetização.
Se você puder agregar valor ao cliente por meio de software, você pode cobrar por assinaturas e não depender apenas de taxas interbancárias, disse Gustavo. Quando não estão desenvolvendo novos produtos, essas empresas precisam gerar um grande volume de transações para compensar a queda na taxa de intercâmbio.
A ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs) está mais otimista com essa decisão. Saudamos este lançamento porque trabalhamos duro para garantir que não haja um limite muito baixo que prejudique muito as fintechs do que as instituições financeiras, disse Diego Perez, presidente da ABFintechs, sobre startups.